Luiz Fernando Evaristo

O jogador Mané Garrincha, cujas adversidades físicas na infância o tornavam um improvável candidato ao sucesso no futebol, desafiou os limites da anatomia e da ortopedia. Suas características físicas eram notavelmente desafiadoras, com uma coluna deformada, bacia deslocada em direção oposta à desalinhada estrutura das pernas, joelho direito curvado para dentro e esquerdo para fora, além de uma perna esquerda cerca de 6 centímetros mais curta que a direita. Adicionalmente, ele enfrentou os efeitos da poliomielite em sua infância e também lidou com um ligeiro estrabismo. Dada a gravidade desses desafios físicos, poucos teriam imaginado que o jovem Manoel pudesse sequer caminhar, muito menos sonhar em se tornar um jogador de futebol renomado.

No entanto, determinado a superar todas as probabilidades, um dia ele decidiu realizar um teste no Botafogo, por intermédio do ex-jogador Araty. Em sua primeira exibição, ele surpreendeu a todos ao driblar o renomado Nilton Santos, já um titular inquestionável da Seleção Brasileira. Impressionado com o desempenho de Manoel, Nilton prontamente recomendou ao técnico do time: “Contratem esse rapaz imediatamente. É melhor tê-lo ao nosso lado do que enfrentá-lo como adversário”. Apesar de ainda ser um desconhecido na época, na primeira vez que seu nome apareceu em um jornal, foi rotulado de forma depreciativa como “Gualixo”.

Durante a Copa do Mundo de 1958, o técnico da União Soviética afirmou, referindo-se a Pelé e Garrincha: “O Brasil trapaceou, trouxe dois jogadores de outro planeta para disputar o Mundial”. Seu desempenho estelar também não passou despercebido na Copa de 1962, quando um jornal chileno indagou: “De qual planeta veio Garrincha?”. Seus feitos extraordinários contribuíram para conquistar duas Copas do Mundo para o Brasil, com suas jogadas espetaculares e habilidades únicas em campo.

Suas habilidades transcendiam o âmbito nacional, sendo reconhecido internacionalmente quando a FIFA o nomeou para o time titular da Seleção Mundial de Todos os Tempos. No entanto, sua jornada terrena chegou ao fim em 20 de janeiro de 1983, quando o mundo do futebol perdeu uma de suas estrelas mais brilhantes. O espírito indomável de Garrincha, sua capacidade de superar adversidades inimagináveis e suas contribuições inestimáveis para o esporte o imortalizaram como um dos maiores talentos que o futebol já testemunhou.