Luiz Fernando Evaristo

Juan Eduardo Hohberg, uma figura de destaque no futebol sul-americano, nasceu na Argentina, mas sua paixão pelo esporte e suas conquistas expressivas o levaram a se tornar uruguaio naturalizado. Sua história épica ficou eternizada na memória dos fãs durante a Copa do Mundo de 1954, na Suíça, quando ele desempenhou um papel crucial em uma das semifinais mais emocionantes da competição.

A partida histórica ocorreu contra a poderosa seleção da Hungria, então considerada a sensação do torneio. O time húngaro de Puskás dominava a competição, e nas semifinais, saiu na frente com gols de Czibor aos 13 minutos e Hidegkuti, logo no primeiro minuto do segundo tempo. No entanto, foi nesse momento crítico que Juan Eduardo Hohberg emergiu como o herói improvável da equipe uruguaia.

Aos 30 minutos da etapa final, Hohberg marcou o primeiro gol para o Uruguai, mas seu momento mais marcante estava reservado para os 41 minutos. Nesse instante, ele empatou o jogo, forçando a partida a ir para a prorrogação. Contudo, esse momento de triunfo foi ofuscado por uma tragédia quase fatal.

Durante o gol de empate, Hohberg ficou desacordado, sofrendo um ataque cardíaco. O médico da seleção uruguaia, Carlos Abate, agiu com rapidez e coragem, administrando duas doses de coramina e realizando massagem cardíaca para ressuscitar o jogador. Esse episódio dramático adicionou uma dimensão única à lenda de Hohberg, destacando sua tenacidade e determinação.

Os segundos em que Hohberg permaneceu desacordado foram um susto para a equipe e os torcedores. Mesmo desaconselhado pelos médicos, ele retornou ao campo para a prorrogação, inicialmente com 10 jogadores, mas logo se juntou aos companheiros de equipe. Esse ato de coragem é uma façanha que dificilmente seria repetida nos dias de hoje, com a preocupação crescente com a saúde dos atletas.

Apesar da incrível demonstração de resistência de Hohberg, o Uruguai acabou perdendo na prorrogação por 4 a 2, com dois gols decisivos de Kocsis, que se tornaria o artilheiro do torneio, com 11 gols. Hohberg ainda teve a oportunidade de marcar um gol na disputa pelo terceiro lugar contra a Áustria.

No entanto, o destino de Hohberg tomou um rumo sombrio após a Copa do Mundo de 1954. Um acidente de carro o deixou impossibilitado de jogar futebol por anos, até seu retorno em 1958. Em 1969, ele recebeu o convite para assumir o comando da seleção uruguaia, liderando a Celeste na Copa do Mundo de 1970, no México.

Em 30 de abril de 1996, o coração que havia parado durante aquela Copa do Mundo de 1954 finalmente sucumbiu em Lima, no Peru, onde Hohberg havia fixado residência com sua família. Sua vida e carreira são lembradas como uma saga extraordinária de coragem, superação e dedicação ao esporte, marcando Juan Eduardo Hohberg como uma figura eterna no panteão do futebol sul-americano.