Luiz Fernando Evaristo

No dia 30 de maio de 1909, uma partida entre o Botafogo e o Mangueira entrou para a história do futebol brasileiro como um capítulo singular e extraordinário. Este jogo, válido pelo primeiro turno do Campeonato Carioca, testemunhou o Alvinegro atingir a marca inigualável de 24 gols contra o Mangueira, estabelecendo um placar jamais visto em jogos oficiais no país. A singularidade desse evento majestoso pode ser parcialmente atribuída ao contexto em que a partida se desenrolou.

O Botafogo daquela época se destacava com um time bem treinado, mantendo um padrão tático consistente, o que o colocava em vantagem sobre seus adversários durante a era do amadorismo no futebol. Enquanto isso, o Mangueira enfrentava dificuldades, contando apenas com dez jogadores, alguns destes desprovidos de técnica para o esporte. Essa discrepância de habilidades entre as equipes certamente facilitou o domínio avassalador do Fogão durante o confronto.

A extraordinária exibição de liderança do Botafogo se manifestou com nove gols apenas no primeiro tempo, seguidos por mais 15 no segundo período de jogo. Uma média impressionante de um gol a cada quatro minutos foi estabelecida, demonstrando a inquestionável superioridade do time naquela partida memorável. Gilbert Hime se destacou como o artilheiro do dia, contribuindo com nove gols para o escore final.

Além do incrível placar, um detalhe curioso foi o número de espectadores presentes para testemunhar esse feito no antigo campo da rua Voluntários da Pátria, onde o Botafogo sediava seus jogos até 1912. O registro financeiro indica a presença de 224 espectadores, dos quais apenas 84 haviam adquirido ingressos para assistir à partida.

As escalações das equipes naquele dia marcante foram as seguintes:

Botafogo: Coggin; Raul Rodrigues (1), Dinorah (1), Rolando de Lamare e Lulú Rocha (2); Edgard Pullen, Henrique Teixeira (1), Flávio Ramos (7) e Monk (2); Gilbert Hime (9) e Emmanuel Sodré (1) (números entre parênteses representam os gols marcados por cada jogador).

Mangueira: Luiz Guimarães; José Perez, Carlos Mongey, Victor e Jonas Cunha; Justino Fortes, Alberto Rocha e João Pereira; Menezes e Maranhão.

Essa partida inesquecível ficou registrada como um feito incomparável na história do futebol brasileiro, destacando não apenas a superioridade técnica do Botafogo, mas também a discrepância entre equipes em um contexto marcado pelo amadorismo e pela disparidade de recursos e treinamento entre os clubes.