Luiz Fernando Evaristo

Dorival Knipel, mais conhecido pelo apelido Yustrich devido à sua semelhança com o renomado goleiro do Boca Juniors das décadas de 1930 e 1940, Juan Elias Yustrich, teve uma trajetória notável e diversificada no mundo do esporte. Corpulento, Yustrich deu os primeiros passos como boxeador, mas logo abandonou o ringue, direcionando-se para o mundo do futebol ao ingressar no Flamengo, onde defendeu as traves com destreza e paixão.

No entanto, foi como treinador que Yustrich solidificou sua reputação, deixando sua marca, especialmente no cenário do futebol mineiro. Sua abordagem obstinada e exigente, temperamento explosivo e estatura imponente de 1,90 m lhe renderam o apelido de “Homão”. Durante seu tempo como treinador do Villa Nova, de Nova Lima, sua personalidade intransigente era evidente. Em 1958, o time português Porto goleou o Oriental por 5 a 0 e Yustrich ordenou que os seus jogadores agradecerem ao público o apoio que lhes tinha sido dado. Hernani, o maior ídolo do time, foi o único a não cumprir a ordem porque não estava a fim de “alimentar as palhaçadas do treinador”. Foi o suficiente para se iniciar uma discussão áspera que culminou com um troca de socos.

Em outra ocasião, ele convocou o talentoso meio-campista da equipe para uma conversa reservada e lhe fez uma observação franca: “Quelé, você tem habilidade, sabe passar bem e chega fácil no gol adversário, só falta dar combate e ajudar o time na defesa.” Então Quelé lhe respondeu francamente: “Ah, é? E o senhor acha que eu, sabendo driblar, sabendo passar, e se ainda soubesse dar combate e ajudar o time na defesa estaria jogando nesse time mixucura e ganhando esse salário de fome?”

Após encerrar definitivamente sua carreira como técnico, Yustrich passou os últimos anos de sua vida em seu sítio na cidade de Vespasiano, em Minas Gerais. Longe dos holofotes do mundo do futebol, ele encontrou paz e tranquilidade, desfrutando da companhia de seus cachorros, do canto dos passarinhos, do esplendor das flores e da serenidade da natureza circundante. Essa versão mais serena e contemplativa contrastava notavelmente com a persona vigorosa e exigente do “Homão”, como era reverenciado no meio futebolístico. Yustrich deixou para trás um legado que não só evidenciou sua devoção ao esporte, mas também revelou um indivíduo multifacetado, cuja paixão e determinação moldaram sua história singular no universo do futebol.