Gandula: A Profissão que Anima a Garotada

12 de outubro de 2023


Em um episódio totalmente inusitado na história do futebol, um bode “trabalhou” como gandula no jogo Água Verde 3×3 Ferroviário, no dia 20 de janeiro de 1964, no Estádio Orestes Thá, em Curitiba, Paraná. Desde o início deste esporte bretão, centenas de milhares de jovens já se divertiram como gandulas em jogos de futebol. Mas de onde vem o termo gandula? Em 1939, o Vasco da Gama, um renomado clube de futebol do Rio de Janeiro, embarcou em uma aquisição que mais tarde se tornaria parte da história do esporte no Brasil. Naquela época, o Vasco tomou uma decisão ousada, contratando cinco jogadores de uma só vez, um feito que chamou a atenção do mundo do futebol. Um desses jogadores notáveis era Bernardo Gandulla, cuja transferência envolveu uma série de reviravoltas e desentendimentos, culminando na criação de um termo lendário: “gandula.”

Gandulla, um talentoso jogador argentino, foi recrutado pelo Vasco da Gama como parte dessa emocionante investida no mercado de transferências. No entanto, a contratação ocorreu de maneira precipitada, sem que o clube brasileiro fornecesse o passe internacional apropriado aos jogadores – um procedimento obrigatório naquela época para contratações internacionais. Isso desencadeou uma controvérsia significativa, com o clube argentino Ferro Carril Oeste alegando que Gandulla ainda estava sob seu contrato e não tinha se transferido de fato para o Vasco.

Enquanto o impasse se arrastava e as negociações ocorriam nos bastidores, Gandulla continuou a demonstrar seu compromisso com o clube carioca. Ele comparecia aos jogos e se sentava no banco de reservas com seus colegas de equipe, apesar da incerteza em torno de seu status contratual. No entanto, ele não se limitou a ser apenas um espectador passivo. Em uma exibição notável de espírito de equipe e cavalheirismo, sempre que a bola saía de campo, Gandulla não perdia tempo e corria para recuperá-la, entregando-a rapidamente, mesmo que fosse para o adversário.

Essa atitude notável de Gandulla não passou despercebida e logo se tornou um símbolo de gentileza e camaradagem no mundo do futebol. Os espectadores e colegas de equipe apreciavam sua disposição em ajudar a manter o jogo em movimento, independentemente da equipe que se beneficiava com sua prontidão. Assim, nasceu a lenda do “gandula” – um termo que simboliza alguém que age com presteza e espírito de equipe, priorizando o jogo acima de rivalidades e competições.

Em 1940, a Federação Carioca de Futebol oficializou o termo “gandula” em reconhecimento à influência duradoura de Gandulla no esporte. A palavra passou a ser usada para descrever os jovens ou voluntários que auxiliam na rápida reposição de bolas fora de campo durante as partidas de futebol. A ideia por trás do termo é a mesma que Gandulla personificou durante seu tempo no Vasco: a importância de manter o jogo fluindo suavemente, independentemente das circunstâncias.

A história de Bernardo Gandulla e o nascimento do termo “gandula” representam uma bela homenagem ao espírito esportivo e à generosidade que podem ser encontrados no mundo do futebol. A lenda de Gandulla nos lembra que, mesmo em meio a disputas acirradas e rivalidades, a gentileza, o companheirismo e a paixão pelo jogo são valores que transcendem as fronteiras do campo e inspiram crianças e adultos ao redor do mundo.


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