O Milagre da Volta aos Campos de Mirandinha
5 de julho de 2024
Era uma tarde de domingo, 24 de novembro de 1974, na cidade de São José do Rio Preto, em São Paulo, quando jogavam São Paulo contra o América local. Aos 24 minutos do segundo tempo, a bola bateu na trave do gol de Aulus e sobrou para Piau. Mirandinha vinha atrás, na corrida, sem notar que o zagueiro Baldini corria ao seu lado. O chute dele saiu forte, dividido, e os dois caíram. Mas só Baldini se levantou; Mirandinha ficou se contorcendo com a tíbia e o perônio de sua perna esquerda fraturados.
O estádio ficou em silêncio. A lesão de Mirandinha foi grave e todos sabiam que sua recuperação seria longa e incerta. Ele foi imediatamente levado ao hospital, onde os médicos confirmaram a fratura dupla. Para um jogador de futebol, especialmente um atacante ágil e veloz como Mirandinha, esse tipo de lesão poderia significar o fim de sua carreira. No entanto, Mirandinha não se deixou abater. Com uma determinação inabalável, ele começou o longo processo de reabilitação. Foram meses de fisioterapia intensa, exercícios dolorosos e muita força de vontade.
Dois anos, nove meses e oito dias depois do trágico acidente, Mirandinha voltou aos gramados. No dia 8 de dezembro de 1977, no estádio do Linense, na cidade de Lins, São Paulo, ele surgiu na boca do túnel e correu ágil para o meio do campo. Era um momento que ele aguardou por tanto tempo e por isso chorou de alegria. Os torcedores presentes no estádio aplaudiram de pé, emocionados ao verem o retorno de um jogador tão querido. Mirandinha havia superado todas as expectativas, provando que com esforço e dedicação é possível superar até os desafios mais difíceis.
Aos 38 minutos de jogo, Mirandinha recebeu a bola no meio de campo e, rápido como nos velhos tempos, tocou para Viana. De costas para o goleiro, na marca do pênalti, recebeu a bola de volta, tirou um zagueiro da jogada e chutou rasteiro com o pé direito, no canto. Foi um gol de craque, um gol que simbolizava sua volta triunfal. O estádio explodiu em comemoração. Depois desse gol, Mirandinha continuou mostrando seu talento. Dividiu bolas, driblou adversários e até tentou um gol de bicicleta. Saiu do jogo como um verdadeiro herói, nos braços da torcida são-paulina. Para ele, aquele era mais do que um simples jogo; era uma vitória pessoal, a confirmação de que ele havia superado todos os obstáculos e estava de volta à sua melhor forma.
Em 1973, Mirandinha havia recebido a Bola de Prata da revista Placar, sendo eleito o melhor centroavante do Campeonato Brasileiro daquele ano. Seu talento e habilidade em campo eram inegáveis. No ano seguinte, 1974, ele foi convocado para a Seleção Brasileira para a disputa da Copa do Mundo. Disputou quatro jogos, contra a Escócia, Zaire, Holanda e Polônia, mostrando ao mundo seu potencial. Mesmo enfrentando alguns dos melhores jogadores do mundo, Mirandinha manteve-se firme, demonstrando o porquê de sua convocação.
Após se aposentar dos gramados, Mirandinha não se afastou do futebol. Ele se tornou técnico de alguns clubes, como o CENE, do Mato Grosso do Sul. Além disso, trabalhou com as categorias de base do Corinthians, onde ajudou a formar novos talentos para o futebol brasileiro. Seu conhecimento e experiência eram valiosos, e ele se dedicou a transmitir tudo o que sabia para a nova geração de jogadores. Também esteve ligado a escolas de futebol da Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo, onde continuou sua missão de fomentar o amor pelo futebol e desenvolver jovens atletas.
A história de Mirandinha é um exemplo de superação e paixão pelo esporte. Desde os momentos de glória até os desafios mais difíceis, ele sempre demonstrou uma força interior incrível. Sua trajetória no futebol brasileiro é lembrada com carinho pelos torcedores e serve de inspiração para muitos. A carreira de Mirandinha, marcada por altos e baixos, é uma prova de que, com dedicação e amor pelo que se faz, é possível superar qualquer adversidade.
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