Luiz Fernando Evaristo

A edição inaugural da Copa do Mundo, realizada em 1930, marcou o ponto de partida histórico para a participação da Seleção Brasileira de Futebol nesse prestigioso torneio internacional organizado pela FIFA. Desde então, o Brasil conquistou o status de ser a única nação a estar presente em todas as edições subsequentes da competição global de futebol. Contudo, a estreia brasileira neste evento emblemático foi marcada por uma controvérsia que ecoou a tensão entre Rio de Janeiro e São Paulo naquela época.

Uma disputa acalorada entre as duas principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, resultou na ausência dos jogadores paulistas na Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo de 1930. A origem desse desacordo remontava à composição da comissão técnica da seleção nacional. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD), sediada no Rio de Janeiro, recusou-se a aceitar a inclusão de um representante da Associação Paulista de Esportes Atléticos na equipe técnica. Como retaliação, a Associação Paulista de Esportes Atléticos optou por não ceder nenhum jogador paulista para a Seleção. A exceção foi Araken Patusca, que, envolvido em uma disputa contratual com o Santos, assinou com o Flamengo para disputar o torneio.

A jornada rumo ao Uruguai, país-sede do torneio, foi uma completa saga. A equipe brasileira embarcou em uma viagem de três dias em um barco a vapor, enfrentando não apenas os desafios físicos da travessia, mas também a tensão que permeava as relações entre Rio de Janeiro e São Paulo na época. O racha entre os dois estados era tão profundo que a derrota inicial do Brasil para a Iugoslávia por 2 a 1 foi recebida com celebração por muitos paulistas, que interpretaram o revés como uma “derrota dos cariocas”.

Os convocados pelo técnico Píndaro de Carvalho Rodrigues para representar o Brasil nesta primeira incursão mundialista foram uma mistura de talentos de diferentes clubes cariocas. A lista incluía os goleiros Joel (América) e Velloso (Fluminense); os zagueiros Brilhante (Vasco), Itália (Vasco), Oscarino (Ypiranga, de Niterói) e Zé Luiz (São Cristóvão); os meio-campistas Benevenuto (Flamengo), Fausto (Vasco), Fernando (Fluminense), Fortes (Fluminense), Hermógenes (Vasco), Ivan Mariz (Fluminense) e Pamplona (Botafogo); e os atacantes Araken (Flamengo), Carvalho Leite (Botafogo), Doca (São Cristóvão), Manoelzinho (Ypiranga, de Niterói), Moderato (Flamengo), Nilo (Botafogo), Poly (Americano, de Campos), Preguinho (Fluminense), Russinho (Vasco) e Teóphilo (São Cristóvão).

Esta convocação diversificada refletia a riqueza do talento futebolístico brasileiro na época, com jogadores representando diferentes clubes do Rio de Janeiro. Mesmo tendo alcançado apenas o 6º lugar e sido eliminada na Primeira Fase, a Seleção Brasileira de 1930 iniciou sua trajetória nas Copas do Mundo, pavimentando o caminho para as futuras glórias e conquistas que fariam do Brasil uma potência no cenário do futebol mundial.