Luiz Fernando Evaristo

O Sport Club Mangueira teve um início marcado por uma derrota humilhante que entrou para a história do futebol brasileiro. Em 30 de maio de 1909, este modesto clube, fundado pelas famílias Santos e Lebre, ambos de classe média na Tijuca, Rio de Janeiro, enfrentou uma devastadora derrota de 24×0 para o Botafogo. A falta de jogadores disponíveis para a partida levou o tesoureiro Manuel a atuar como goleiro, mesmo sem experiência prévia no esporte. Contudo, ninguém anteviu a magnitude do desastre que estava por vir naquele fatídico dia.

O Mangueira, um clube humilde que sequer possuía seu próprio campo de treino, realizava seus treinamentos em um campo localizado no Jardim Zoológico da Vila Isabel. Os registros desse confronto desastroso permanecem apenas nos documentos do Botafogo, já que a Federação Carioca de Futebol, criada em 1937, não documentou eventos anteriores à sua fundação.

Após essa derrota avassaladora, o Mangueira enfrentou outros resultados vexatórios, levando-o a abandonar os campeonatos de 1910 e 1911. O mesmo padrão repetiu-se em 1914, 1915, 1916, 1921 e 1922. O histórico do clube entre 1909 e 1914 revela apenas 14 vitórias, 8 empates e 96 derrotas, incluindo placares vergonhosos como 12×0 para o Paissandu, 16×2 para o Flamengo, 10×2 para o Fluminense, 11×1 para o São Cristóvão e 7×3 para o Bangu.

A situação atingiu um ponto crítico em 1916, quando o médico do clube, Theóphilo Torres, solicitou à Academia Nacional de Medicina a proibição do futebol. Ele alegava que o esporte era prejudicial ao desenvolvimento psíquico das crianças. Diante de tantas humilhações, os jogadores do Mangueira passaram a adotar uma postura mais agressiva em campo, sem a existência dos cartões amarelo e vermelho na época, cometendo até os pênaltis mais escandalosos.

Após participar de 11 campeonatos cariocas e sempre terminar em último lugar, o clube finalmente encerrou suas atividades em 1927, marcando o fim de uma trajetória repleta de desafios e dificuldades. O Sport Club Mangueira, apesar de sua breve existência, deixou uma marca exclusiva na história do futebol brasileiro, representando não apenas as derrotas dolorosas, mas também a resiliência diante das adversidades enfrentadas por um clube modesto.